À medida que o avião se aproximava do aeroporto a cor branca ocupava o campo de visão. Já no desembarque vi a neve pela primeira vez, achei bonito, mas aquilo aumentava a sensação de frio e fiquei me perguntando como seriam aqueles dias. No trajeto até a cidade, a paisagem branca, inóspita e distante confirmava que eu havia chegado no fim do mundo. Mais precisamente em Ushuaia, cidade argentina no extremo sul do continente e devido a sua localização é conhecida como o Fim do Mundo. Mas não é a cidade mais ao sul do mundo não, depois dela tem a cidade chilena de Puerto Williams. Mas Ushuaia faz propaganda e se orgulha de ser o Fim do Mundo. A ideia de ir a um lugar tão tão distante me atraiu e incluà a cidade na minha viagem à Patagônia.
Distante mais de 3.000 km de Buenos Aires e bem mais prĂłxima da Antártida (1000 km), Ushuaia pertence a uma ProvĂncia que apesar do frio e neve tem o nome de Tierra Del Fuego. Este nome foi dado pelo navegador portuguĂŞs que ao chegar na regiĂŁo avistou fumaça das fogueiras dos nativos. Aproximadamente 60.000 habitantes vivem num lugar que Ă© sempre frio com o dia curto no inverno e bem longo no verĂŁo.
Que seria frio eu sabia e atĂ© desejava por isto para fugir do calor de VitĂłria, mas nĂŁo esperava temperaturas negativas e neve em abril no fim do mundo. Nos dias que antecederam a viagem, a previsĂŁo do clima em Ushuaia era diferente da minha previsĂŁo, e fiquei imaginando como ia ser encarar uma temperatura que eu nĂŁo conhecia abaixo de zero, com neve. Lembrei da Ăşltima vez (faz tempo) que fui ao Parque Nacional do CaparaĂł e que fiquei tremendo por causa de 4°, e diante do que teria pela frente imaginei que a roupa que levei nĂŁo seria suficiente e que teria que alugar outras na cidade.
Deixei as minhas coisas no Hostel e saĂ, queria saber como era andar na neve, se era muito frio mesmo. Mas me esforçando para nĂŁo cair eu atĂ© transpirava embaixo de brusa de frio, gorro, luva… sĂł percebia o quanto era frio devido o incĂ´modo do vento no rosto desprotegido gelado.
Era fim de tarde e ainda tinha movimento nas ruas mas com o tempo foi diminuindo, ficando um ou outro turista perdido. Havia muitos carros parados cobertos pela neve, mas circulando sĂł um ou outro que aparecia e era estranho quando eles paravam na rua deserta esperando o sinal abrir.
O centro de Ushuaia é pequeno, tem a Avenida San Martin que é a principal com o comércio, restaurantes e agências de turismo. Paralela a esta avenida tem a avenida do porto e as ruas transversais que são ladeiras que descem dos pés de cerros, que embelezam o entorno da cidade, e terminam no porto. Mas quando fui ao Parque Nacional da Terra do Fogo percebi que a cidade tem bairros espalhados na periferia.
Durante a minha estada em Ushuaia tive oportunidade de ver três fases da neve. No dia que cheguei vi a cidade sendo tomada por ela, cai muita neve e já havia bastante pelas ruas. No segundo dia a cidade já estava totalmente coberta, e continuava caindo mais. No último dia já não caia mais neve e a cidade estava sendo tomada pela lama da neve que derretia. Conviver com a neve já não estava mais divertido, mesmo assim curti muito, era tudo diferente. Mas será que morar num lugar assim é legal? Tem que andar com cuidado na ruas para não escorregar no gelo (pensei logo nos velhinhos), tem que retirar a neve que cobre o carro ou da frente da porta de casa para poder sair, quando vai para rua usa um monte de roupa e quando entra em algum ambiente ter que tirar a roupa por causa do aquecedor.
O QUE FAZER
É possĂvel fazer vários passeios independente da Ă©poca do ano. Alguns sĂŁo especĂficos do verĂŁo ou inverno e outros acontecem o ano todo. SĂŁo muitos atrativos como parques, lagos, geleiras, estâncias, pinguins, lobos marinhos e tambĂ©m museus. AgĂŞncia de turismo nĂŁo falta para fazer os passeios, algumas ficam na av San Martin e muitas delas estĂŁo uma ao lado da outra no porto turĂstico. E os hotĂ©is e albergues tambĂ©m oferecem todos os passeios, e pude conferir que os valores sĂŁo os mesmos.
Eu fiquei somente 02 dias inteiros na cidade e programei passeios bem tradicionais e muito divulgados nos blogs que daria para fazer nesse tempo, mas devido ao tempo (neve) não consegui fazer todos. Os passeios não são baratos (como tudo em Ushuaia) e tem taxas e ingressos que são pagos separados e necessariamente em peso argentino. Fiz as minhas pesquisas aqui ainda no Brasil mas fechei os passeios no próprio albergue. Não tive problemas em fazer isso pois viajei em abril, baixa temporada. Mas na alta temporada muita gente orienta em sair do Brasil já com as reservas.
O planejado era:
Navegação no Canal Beagle: Canal que banha a cidade e que faz a ligação entre o Oceano Atlântico e o PacĂfico onde Ă© possĂvel ver algumas ilhas, o farol do fim do mundo e leões marinhos (no verĂŁo tambĂ©m tem pinguins).
O valor em abril (peso argentino) era de $ 750,00 + $ 20,00 de taxa portuária.
Duração aproximada de 03 horas com saĂda pela manhĂŁ e tarde.
Glaciar Martial: Uma geleira no alto de um cerro prĂłximo do centro na Cordilheira dos andes. Tem trilhas com mirantes que proporcionam belas vistas e no inverno tem uma pista de esqui.
Valores variados dependendo do programa da agĂŞncia. Mas pode ir contratando sĂł um transfer. No hostel teve gente que pagou $ 100,00.
Parque Nacional Tierra Del Fuego: Posso tá enganado mas acho que Ă© uma das principais atrações da cidade com paisagens incrĂveis e onde tambĂ©m tem o trem do fim do mundo, que era utilizado pelos presos. Leia aqui como foi a minha visita.
As agências estavam cobrando $ 600,00 com transporte e guia. Tem a alternativa de ir de transfer que deixa a pessoa em um ponto do parque e no mesmo lugar busca no horário combinado, custa a metade do valor. No parque moradores do Mercosul pagavam $ 100,00 pelo ingresso.
Duração aproximada de 06 horas saĂndo pela manhĂŁ.
Museu MarĂtimo e do PresĂdio: O antigo presĂdio que recebia os piores criminosos e que hoje nos seus pavilhões abriga museus contando nĂŁo sĂł a histĂłria do presĂdio e seus hĂłspedes, mas tambĂ©m sobre a vida marĂtima e espaços como galeria de arte.
Valor do ingresso para moradores do Mercosul: $ 150,00.
A duração da visita é muito relativa. Eu fiquei 50 minutos fazendo a visita de forma independente, mas tem também a visita guiada.
No dia que cheguei pedi informações no Hostel sobre os passeios e reservei para o dia seguinte a Navegação no Canal Beagle. Mas no dia seguinte quando cheguei ao porto fui informado que nĂŁo teria o passeio devido ao tempo fechado (neve). Ă€ tarde apareceu um sol tĂmido mas tambĂ©m nĂŁo teve condições. Pensei no Parque mas nevava muito e achei que nĂŁo valeria a pena. No Glaciar Martial nĂŁo chegava carro. Ou seja, eu teria um dia perdido, o que seria muito para quem sĂł tinha mais um na cidade. Este dia foi o que mais nevou mas mesmo assim aproveitei bastante, andei pela cidade sob e sobre a neve e aproveitei para visitar o Museu MarĂtimo e do PresĂdio (terá um post). Caiu muito bem a vista, um lugar aquecido.
No dia seguinte a neve deu uma trĂ©gua e já era possĂvel fazer os passeios. Tinha um dia para 03 passeios e precisei escolher, dei preferĂŞncia ao Parque Nacional Tierra Del Fuego. Fui usando o serviço de transfer e com isso sĂł consegui fazer este passeio pois retornei já no fim do dia. Se tivesse ido com uma agĂŞncia teria chegado a tempo de fazer a navegação. Foi ruim porque sĂł fiz um passeio, mas valeu muito a pena ter ido ao parque. A paisagem estava incrĂvel, curti muito.
HOSPEDAGEM
Ushuaia oferece boa estrutura de hospedagem para os turistas que chegam cada vez mais e em maior número. Tem desde albergues para mochileiros até belos hotéis mais afastados do centro mas próximos da natureza, depende do seu gosto e do seu bolso.
Se fosse pelo meu gosto teria ficado em um belo hotel, mas tive que ficar mesmo em um hostel. Fiquei no Hostel Yakush bem no centro da cidade na Av San Martin, uma ótima localização, com bom atendimento e um clima legal. Dividi um quarto misto com mais 03 pessoas, paguei U$ 16,10 com um café da manha simples mas que me atendeu. Não foi cobrado imposto adicional como em Buenos Aires e El Calafate.
O quarto tinha um bom espaço, dormi em cama mesmo (nĂŁo beliche) porĂ©m achei a cama pequena pra mim que sou grande. O que nĂŁo áchei legal Ă© que o quarto ficava sob um mezanino de madeira onde era uma sala, fazendo assim um pouco de ruĂdo, a porta do quarto e de vários outros dava para uma área comum tendo sempre algum barulho. Mas observei que tĂŞm outros quartos mais reservados. Ficaria lá novamente, sĂł mudaria de quarto.
ONDE COMER
Gostaria de colocar aqui indicação de vários restaurantes mas vou ficar devendo. Ushuaia é um destino caro e não é barato comer em restaurantes da cidade. O lugar que mais frequentei foi o supermercado que fica na Av San Martim e que é indicado pelo pessoal do hostel quando você pergunta onde comer. O bom do supermercado que ele tinha rotisseria com pratos prontos e quentes, eu comprava e ia comer no Hostel, aliás o lugar mais frequentado no Hostel era a cozinha.
Mas fui também a restaurante. Não poderia sair dali sem comer um cordeiro patagônico. Aceitei a sugestão e fui ao Restaurante Bodegon Fueguino que fica na quadra seguinte do Hostel na Av San Martin, pedi o tal cordeiro com papas. O restaurante estava cheio e já estava convencido que iria esperar muito pelo pedido. Quebrei a cara, rapidamente chegou um prato bem servido e a carne desmanchava na boca. Foi a melhor refeição que fiz na Patagônia.
COMO CHEGAR
Viajei pela AerolĂneas Argentina usando tarifa para residentes (leia AQUI). Mas a TAM/LAN tambĂ©m faz este trecho que tem a duração aproximada de trĂŞs horas e meia. Tem como ir de Ă´nibus, mas sĂŁo mais de 3000 km de distância deixando a viagem longa e cansativa.
TRANSFER
Taxi. Cheguei ver transfer com agências mas ficava bem mais caro. Se o seu hotel não oferecer este serviço pegue um taxi. Gastei $ 100,00 até o Hostel no centro da cidade.
CÂMBIO
Faça em Buenos Aires. E se puder leve dólar para pagar a hospedagem. No Hostel o preço era em dólar e a conversão não foi muito boa.
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