Este post faz parte da sĂ©rie sobre os atrativos divulgados no MANUAL PARA ATENDIMENTO AO TURISTAda prefeitura de VitĂłria. Este manual foi distribuĂdo para profissionais que atuam no atendimento ao turista como motoristas de taxi, recepcionista de hotel e guias de turismo entre outros. Ele contĂ©m informações sobre a cidade, seus pontos turĂsticos e mapas. Eu resolvi visitar os atrativos seguindo as orientações e a ordem colocada no manual dos atrativos turĂsticos. Neste post escrevo sobre o mercado mais popular entre os capixabas
Todo mundo que viaja, ou pelo menos a maioria, gosta de comprar alguma coisa do lugar onde visita. Eu particularmente não sou muito de comprar e sofro quando tenho que comprar alguma coisa para alguém, seria muito mais prático pra mim se a pessoa escolhesse o presente. Mas mesmo não gostando de comprar adoro visitar mercados populares.
Nós aqui em Vitória não temos um Mercado Municipal ou central como outras cidade do Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Aqui temos o Mercado da Vila Rubim, local do comercio popular de Vitória onde encontramos em algumas ruas artesanato, artigos religiosos, artigo de pesca e caça, ervas medicinais, temperos, doces, pequenos animais, aves, roupas, peixes e carnes. E eu comecei a minha vista por ele, seja bem vindo.

Eu fui ao mercado numa quinta feira e encontrei pouco movimento. Como já era hora do almoço, resolvi almoçar antes de começar a minha visita, e sai procurando um restaurante. Resolvi entĂŁo perguntar a uma senhora que parecia conhecer bem o local já que estava com um carrinho de compras, mas ela ficou na dĂşvida e para me ajudar foi perguntar ao dono de uma lanchonete chamando-o pelo nome e deixando o seu carrinho sozinho perto de mim. Eu sabia que ela podia confiar em mim, mas ela nĂŁo. Pelo visto o Mercado da Vila Rubim ainda tem seus fregueses assĂduos e a confiança que ela teve em mim quebrou a imagem que passam do mercado ser um lugar perigoso e que atĂ© entĂŁo eu tambĂ©m tinha.
Após almoçar no restaurante indicado, com comida a quilo e ar condicionado, fui andar pelo mercado. Tentei tirar fotos de algumas lojas, principalmente as de ervas, mas os proprietários não permitiram e eu respeitei.
O mercado nĂŁo se limita ao prĂ©dio central que abriga lojas, sanitários e lanchonete. Suas 425 lojas ocupam várias ruas, sendo assim nĂŁo Ă© um prĂ©dio mas sim uma regiĂŁo no bairro Vila Rubim. Foi inaugurado em 1969 e reconstruĂdo em 1994 apĂłs um incĂŞndio. O mercado leva o nome do bairro que por sua vez recebeu o nome do antigo governador da capitania do EspĂrito Santo, Francisco Rubim.
Antigamente era o principal local de comĂ©rcio da regiĂŁo metropolitana de VitĂłria, tanto para fazer compras do o dia-a-dia, ou para datas especiais como o palmito para a semana santa, fogos de artifĂcio para o fim de ano ou festa junina e artigos para oferendas, garrafadas para problemas sexuais. Hoje com o surgimento de centros comerciais, supermercados nos bairros e feiras, ele perdeu um pouco da atenção do capixaba, mas ainda resiste, atĂ© quando nĂŁo sei.
Aos sábados ao meio dia e as quartas Ă s 19h acontece no mezanino do prĂ©dio central o projeto “Cantando na Vila”, que leva cultura paro o mercado da Vila Rubim e aulas de mĂşsica para as crianças do bairro afastando elas dos problemas causados pelas drogas.
Encontrei essa crônica no site http://www.morrodomoreno.com.br e respeitosamente transcrevo aqui para ficar mais fácil o entendimento do que é esse patrimônio de Vitória.
Mercados de VitĂłria – Vila Rubim
Aqui tem
Há duas maneiras de se ir ao mercado. A mais prosaica Ă© “ir de compras”: cesta na mĂŁo, bolsa preta pendurada no ombro com o dinheiro grosso e o trocado e, chegando lá, lerdar no passo olhando com olhos crĂticos os coloridos montinhos de tomates vermelhos, pimentões, alfaces de saiotes franzidos, laranjas cor de laranja, abĂłbora cor de abĂłbora, jabuticabas que parecem olhos de menino travesso.
A outra maneira Ă© ir de intrometida, na base do folclore, procurando o inusitado.
Quando criança, ir ao mercado da Vila Rubim com mamĂŁe era um programa dos mais interessantes. Para mim, ao menos. Ela ia de cesta na mĂŁo, bolsa preta pendurada no ombro com o dinheiro... eu ia “de folclore” – descobrir aquele mundo de cheiros estranhos, a colher avidamente raras sensações. Um mundo singular! Como defini-lo? Era um cheiro de salsa, de escamas de peixe, rumorejo de vozes, bater de utensĂlios, um amontoado de caixotes, crianças correndo, mĂşsculos suados, cachorros sarnentos, bĂŞbados arriados em beira de calçada. Era um lampejo afiado de facões, cascas escorregadias pelo chĂŁo, rastro de mexerica em sopro de brisa, soberbas barrigas de avental manchado, pregĂŁo, falatĂłrio, gritos que entravam por um ouvido e saĂam pelo outro, papagaio, pato, galinha, pipilos canários, pintinhos, boteco animado em pagode improvisado – de tudo pra se comprar.
No ano de 1994, quando o mercado pegou fogo – eu vi de longe – foi um susto em VitĂłria. Coração apertado, como se um incĂŞndio pudesse devorar, nĂŁo apenas os barracos, mas toda uma histĂłria; a histĂłria de todas as vidas que habitaram e se cruzaram nesse intestino da cidade onde circulam donas de casa, criadas, vendedores, mequetrefes, prostitutas, carregadores, vexatĂłrios cĂŁes em assalto a uma esquálida cadelinha... e como se nĂŁo bastasse, apanhadores de papel com seus atulhados carrinhos que tĂŞm a peculiaridade de estar sempre atravancando caminho.
O incĂŞndio, numa casa de fogos de artifĂcio – show pirotĂ©cnico nĂŁo planejado – fez-me lembrar um dos divertimentos de minha infância que era ir ao mercado pela mĂŁo de tio GĂ´ para comprar bombinhas, estrelinhas (delicados chuvisquinhos de ouro), pimentinha e trac-trac. Por alguns dias entretinha-me a dar sustos nos adultos com as pimentinhas que espoucavam a seus pĂ©s e trazia dedos e unhas gastos e cheirando a pĂłlvora, de tanto raspar trac-trac no degrau da escadinha de trás.
A lembrança me trouxe a certeza de que mesmo que o fogo devorasse o mercado inteiro, nada seria capaz de destruir sua história a viver no saudosismo de cada um. (...)
Ontem resolvi rever o mercado. Ih! Há quanto tempo eu nĂŁo ia por lá?! NĂŁo foi bom. O grande prĂ©dio já nĂŁo existe mais. E o mar? CadĂŞ o mar? Empurraram pra bem longe. Já nĂŁo o abraça com ternuras de mĂŁe. Todo o mercado encolheu – mirradinho... Reconheci quase nada. Pouca coisa ainda resta nas poucas vielas estreitas e sombrias, de paralelepĂpedos tortos e irregulares: as cestas... a tenda do candomblĂ©... cadĂŞ as bruxinhas? NĂŁo as havia. NĂŁo pude abraçá-las com ternura de mĂŁe.
Já vinha embora decepcionada – quem mandou ir lá? O incĂŞndio do progresso Ă© o verdadeiro destruidor das coisas singelas (ou fui eu que me distanciei da inocĂŞncia?), as elucubrações sĂł atrapalham; antes eu tivesse ficado sĂł no saudosismo.
Mas, quase ao despedir-me (para sempre), deparei com uma tenda onde um curioso anúncio, escrito em irregular letra de mão numa longa tira de papel, chamou-me a atenção.
Ă€ quem interessar possa, aqui vai, reproduzindo tintim por ipisis lĂteris. Pode ser de grande serventia:
“AQUI TEM-
- CĂŞbo de carneiro
- Poaia
- Castanha mineira
_Vinho casal dos velhos
- Bandarra
- Figa de Guiné
Também tem
REMÉDIO PAPÔTÊNCIA
- Canela sassafrás
- Catuaba
- Marapuama
- NĂł de cachorra
- Trepa moleque
- Esquadra de Quati
- Pau de resposta
- Levanta cadáver.”
O homem garantiu que funciona.
É; o progresso está engolindo, espremendo, encurralando o mercado, mas um secreto encanto permanece latente: nas crendices, nas garrafadas milagrosas, nas receitas infalĂveis de medicina popular misturadas em doses certas com o curandeirismo mágico. Nas tranças das cestas onde ainda brincam os ágeis dedos artesĂŁos, nos exĂłticos odores das ervas, dos legumes, das frutas que ainda trazem a palpitação da terra generosa.
Fonte: Escritos de VitĂłria (11 – Mercados e Feiras) - 1995.
Autora: Marilena Soneghet, nascida em Vila Velha, escritora e pedagoga.
ONDE FICA
O mercado fica na rua Orlando Rocha, 92, Vila Rubim. Tel. 27 3222-7422/2975. E Funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas; sábado, das 8 às 14 horas. E é fácil chegar, várias linhas de ônibus passam pela região, é um local bem conhecido.
Quem ia de carro ao mercado sempre encontrou dificuldade com estacionamento. Estive este mĂŞs (junho/2016) no Vila Rubim para as compras da festa junina da famĂlia e logo consegui vaga para o carro pois agora tem o estcionamento rotativo pago por hora. Ficou mais fácil.
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